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Sum Marky, nasceu na Ilha de S. Tomé e toda a sua obra sofre a decisiva influência do factor geográfico. Filho de pais europeus, emigrados para aquela Ilha, ali cresceu, no ambiente estranho e pitoresco, colocado entre dois Mundos: o Branco e o Negro. Sum Marky, embora de raça branca, nunca esqueceu os braços negros que o acarinharam na primeira infância e guiaram os seus primeiros e indecisos passos. E o pseudónimo literário que adoptou — Sum Marky — mais não é do que o seu próprio nome no cantante e sonoro dialecto indígena.

Prefácio
Já este livro se encontrava na tipografia a compor, quando me ocorreu a conveniência de escrever um prefácio.
Confesso que, imediatamente, mau-grado toda a minha predilecção pelos prefácios, me surgiram, também, alguns inconvenientes.
É que, na minha opinião, o Prefácio de um livro de autor desconhecido, deve ser assinado por Escritor de fama ou Crítico consagrado, facto que, certamente, levaria todo o mundo a comprar o livro só para ler o Prefácio.
Mas, como no caso presente, sendo escrito pelo próprio autor — o mais ignorado de todos os escritores portugueses — é evidente que redunda em pura perca de tempo.
De resto, existe, ainda, uma outra razão, não menos digna de ser ponderada, que me leva a pensar duas vezes, antes de levar àvante a minha ideia. É a seguinte:
Para escrever um Prefácio é indispensável expor umas tantas coisas originais a respeito do Autor e da sua Obra.
Ora, se eu me deitasse a escrever sobre o que penso a respeito dum e doutra, além de ser tarefa demorada e que ocuparia um sem-número de páginas, iria ferir a minha natural modéstia — uma modéstia tipicamente burguesa.
Portanto, limitar-me-ei a dizer que a presente Obra-Prima (que ora vai ser presente ao julgamento dos Leitores) jazeu durante dois anos a um canto da minha gaveta, a encher-se de poeira, por falta de um editor suficientemente inteligente para lhe descobrir os méritos.
«Mas que falta de limpeza!» — Pensarão, horrorizados, os meus Caros Leitores.
A tal observação, sem dúvida bem intencionada, mas um pouco desprimorosa para mim, responderei e esclarecerei que todos os manuscritos inéditos, todas as obras de escritores célebres, jazeram, durante anos, em gavetas e baús, cobertos de pó e teias de aranhas, antes de virem à luz da publicidade.
Mas, prossigamos no meu Prefácio. Dizia, pois, que um natural sentimento de modéstia, perfeitamente justificado, me impedia de levar a bom termo a minha tarefa.
E sendo assim, como de facto é, surgiu-me, de súbito, com a maior evidência, a inutilidade do mesmo Prefácio.
Sim, se pelas razões acima expostas não me é permitido escrever tudo o que penso àcerca do meu romance, para que diabo hei-de estar a perder o meu rico tempo e a desbaratar o do Leitor?
Assim, não restando, logicamente, qualquer justificação para a existência deste Prefácio, desisto de o escrever…
O Autor

Detalhes do livro:
Editora: Autor, 1960; med.: 13,2 x 19,2 cm; 147 pg.
Estado: Bom