“Se estou triste preciso de cozinhar, se estou feliz preciso de cozinhar”. A expressão é de Justa Nobre e sai da nota da autora que abre um livro que é uma viagem de vida e de sabores, transversal a todos esses estados de espírito. O título “Justa Nobre, Paixão pela Cozinha” é a concretização de “um sonho com mais de 20 anos” que, de acordo com a chefe transmontana não apareceu antes por “falta de maturidade”. A obra, com a chancela da 100% Editores, transpira essa maturidade. As mais de 200 páginas fazem-se com receitas, bons produtos que lhe estão na base, mas essencialmente o percurso dito e fotografado (Fotografia de Mário Cerdeira) que enquadra todas essa formas de estar à mesa. Uma história, com textos de Sérgio Simões, que começa em Trás-os-Montes, nos anos de 1950 e que continua em Lisboa. Os prefácios assinados por José A. Salvador e José Fonseca e Costa não poupam elogios a Justa Nobre. José A. Salvador, critico de gastronomia e vinhos, refere: “diferente é a arte de Dª. Justa, profissionalmente rigorosa, sem perder o imaginário que a paixão pelo seu ofício lhe consente”. Mais à frente retoma: “a grande arte de Dª. Justa Nobre assenta na sua criatividade inspirada na tradição mais remota, que moderniza sem destruir esse património histórico-gastronómica”, Já o realizador de cinema, José Fonseca e Costa, diz: “O Nobre passou a ser o meu restaurante e a Justa era a deusa que me preparava os melhores manjares, oriundos da cozinha tradicional portuguesa, por ela transformados sem descaracterizar a sua natureza”. Justa Nobre, antes de arregaçar mangas para apresentar algumas das receitas que lhe fizeram a carreira, traça um percurso de vida. Viaja pela meninice em Trás-os-Montes, em Vale de Prados, uma família de sete irmãos e uma cozinha, onde ajudava a mãe. Assinala os seus 21 anos, quando se iniciou numa cozinha profissional no Restaurante 33, na Avenida Alexandre Herculano, em Lisboa. “A partir daí a minha vida tem sido sempre cozinha”. Um percurso feito ao lado do marido, José Nobre: “O meu sucesso devo-o ao meu marido que sabe recomendar os meus pratos”. Justa Nobre recorda restaurantes onde deixou a sua marca e que escreveram parte da história da restauração lisboeta: o Constituinte, onde conquistou uma clientela ilustre; depois o Nobre. Aí, entre os ilustres, um indefetível Mário Soares. A chefe recorda momentos menos bons para chegar à atualidade e ao Spacio Buondi, restaurante no Campo Pequeno onde, hoje, exibe a sua arte à mesa. Nas receitas, pois é ai, que desemboca este livro que comemora 33 anos de carreira há as entradas, as sopas, os peixes, as cataplanas, as carnes, a caça, a sobremesa. Parta aguçar apetites: queijo de cabra panado, vieiras com vinho Moscatel, tártaro de atum fresco, sopa de crustáceo folhado, creme de espargos verdes, santola gratinada, tranche de garoupa, arroz de sardinhas com elas panadas, pato estufado, lombinhos de porco preto de barrancos, gelado de fim de verão, mousse de mel de rosmaninho, bolo de caramelo. E muito mais. O livro que contou com o patrocínio na Buondi chega aos escaparates com um preço a rondar os 35,00 euros.