Maria Manuel Stocker conta bem a história da perda de Goa em 1961.
A visão estratégica, a habilidade táctica e a tenacidade de Salazar são postas em evidência. Infelizmente para Goa, para Portugal e até para a União Indiana - que acabou por pôr uma nódoa no seu brasão pacifista - Salazar, como o livro também mostra bem, acompanhava aqueles trunfos com incompreensão da cena internacional contemporânea e com ignorância do que sentiam e pensavam os Portugueses. A autora chama à obra Xeque-Mate a Goa e o poker fornece outra analogia de jogo: conhecendo mal a mão do adversário e conhecendo também mal a sua própria mão, Salazar fez bluffe perdeu. Contava com a virtude de Nehru e, se esta vacilasse, com o sacrifício da cropa portuguesa: ou não haveria invasão, ou esta provocaria um massacre, o que ajudaria a posição de Portugal aos olhos do mundo, não só na India, mas também em África. Os dois cálculos erraram.
A autora oferece-nos uma excelente narrativa, enquadrando as peripécias do caso no ambiente político do Portugal da época e no sopro de mudança vindo de Moscovo e de Washington que iria desfazer os impérios coloniais europeus. O livro le-se bem, é uma contribuição importante para a história portuguesa do século XX e tem o mérito ancilar de lembrar que a desventura goesa não poderia ter acontecido se Portugal fosse uma democracia: com efeito, só ausência de liberdades fundamentais, censura e polícia política permitiram ao governo de Salazar mentir impunemente aos Portugueses desde o princípio até ao desenlace desastroso da crise.

Entrego em mãos na zone de Oeiras